Vamos começar a introdução ao estudo da carta de Tiago observando os detalhes que temos no versículo primeiro do primeiro capítulo, mas antes, vale identificar qual foi o propósito de Tiago ao escrevê-la e que reação ele esperava dos leitores.
Baseado nas aulas do Dr. Carlos Osvaldo, entendo que Tiago queria despertar os cristãos que estavam cochilando em sua vida espiritual à uma reação bíblica frente às dificuldades que a vida impõe. Era esperado que os leitores demonstrassem sua fé por meio de suas obras, uma fé que eles já tinham e que por vários motivos parecia adormecer em alguns momentos. Os judeus em geral já apresentavam uma fé intelectual, acreditam em Deus, mas pareciam mais com ateus práticos, pois sua crença não afetava em nada suas vidas. Esta carta então serve como:
· Professora pois ensina muito sobre como percorrer a maratona cristã.
· Placa de sinalização que alerta a evitar alguns perigos com os quais se depara diariamente.
· Vitamina para alma, pois muitas vezes as dificuldades fazem desanimar e até desistir de continuar a lutar.
1:1 Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos que se encontram na Dispersão, saudações.
Tiago
É como o autor da carta se identifica, mas que Tiago é este?
É preciso levar em consideração que o autor, embora haja outras possibilidades menos prováveis, tivesse algumas características que se encaixem no perfil que é perceptível ao longo da epístola:
· Conhecimento das Escrituras (VT).
· Era respeitado pelos judeus o bastante para ser lido por eles.
· Estava vivo entre 45 e 49 DC.
A conclusão amplamente aceita no meio acadêmico é de que este Tiago trata-se do irmão do nosso Senhor Jesus Cristo. Abaixo mais algumas observações sobre ele:
· Aparentemente não creu em Cristo até depois de Sua ressurreição e aparição (cf. Jo 7:5 e 1 Co 15:7).
· Logo ele foi reconhecido como um dos líderes da igreja de Jerusalém (At 12:17; Gl 2:9, 12).
· Liderou o Concílio de Jerusalém (At 15).
· Tinha cuidado em manter relacionamento com os judeus para a proclamação do Evangelho.
· Josefo, descrevendo o apedrejamento de Tiago sob o sumo sacerdote Anano II em a.D. 62., diz que esse ato foi abertamente lamentado pela população judaica:
· Quanto a sua morte, ele foi obrigado pelos romanos e fariseus invejosos a declarar publicamente que Jesus não era o Messias. Ao invés disso, Tiago bradou que Jesus era o Filho de Deus e juiz do mundo. Seus inimigos arrojaram-no ao chão, depois o apedrejaram. Isto aconteceu entre os anos 62 a 63 D.C. (Hegésipo, Josefo)
Doze Tribos na Diáspora.
A carta foi endereçada aos cristãos judeus que viviam fora da Palestina, cuja assembleia (reunião) poderia ser chamada ao mesmo tempo de sinagoga, termo hebraico utilizado pelos judeus (vs 2:2) e de Eclésia, termo grego (5:14), o que inclui tanto os judeus que mantinham uma tradição mais forte, quanto os já helenizados, ou seja, mais acostumados e aparentados com os costumes gregos. Alguns afirmam que mesmo os gentios, aqueles que não eram judeus, poderiam ter sido, também, os leitores originais da carta. Estes eram pessoas basicamente monoteístas (2:19), que não gostavam muito de ajudar os outros financeiramente (4:1-6) e desprezavam os pobres (2:1-7).
Servo
É com este termo que o meio-irmão do Nosso Senhor Jesus Cristo e líder da igreja de Jerusalém se identifica no começo da carta. Temos que pensar no que Tiago queria transmitir com o termo doulós.
· Um escravo não tem direitos próprios, mas pertence ao seu Senhor, assim como seus direitos.
· Um escravo não tem privilégios, apenas deveres.
· Um escravo não tem interesses próprios, mas cuida apenas dos interesses de seu Senhor.
Não apenas isto, mas com o uso deste termo Tiago se coloca ao lado de grandes homens do AT como Moisés (Dt.35.4), Davi (Jr.33.21), entre muitos outros que foram servos/escravos do Deus Vivo. Se há algo de que o cristão pode se orgulhar, se há alguma grandeza que o cristão pode querer é justamente esta. O posto mais alto que um cristão pode chegar é o de escravo de Deus e o lugar mais alto é aos pés do Senhor Jesus Cristo. É ali que Tiago se coloca.
Saudações
Esta palavra cheiren literalmente alegrar-se, era uma saudação comum entre os judeus de língua grega. Parece ironia da parte de Tiago começar saudando aqueles cristãos tão sofredores desta forma, é como dizer bom dia para alguém que acabou de perder um parente próximo ou está passando por alguma tragédia. Para um descrente pode parecer isso, mas para os cristãos, os quais tem uma perspectiva eterna da história, o sofrimento é uma alegria, pois é por meio dele que há crescimento, amadurecimento. O primeiro capítulo vai falar sobre isso, a alegria em meio às provações.
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